Alta dos juros futuros no Brasil em meio a comentários do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, contribui para valorização do real na sessão desta sexta-feira
Arthur Cagliari
SÃO PAULO | VALOR ECONÔMICO – O dólar à vista exibiu desvalorização firme frente ao real na sessão desta sexta-feira (17), voltando a operar a R$ 5,10. Negociadores de câmbio viram como motivos desse movimento algum ajuste ainda em relação ao começo da semana (quando o dólar estava mais elevado, vindo de uma percepção de risco maior por conta de Copom e Petrobras); um possível apoio pela valorização dos preços do minério de ferro; internalização de dólares pelos exportadores; e até mesmo a alta dos juros futuros no Brasil em meio a comentários do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Terminadas as negociações, o dólar comercial fechou negociado em queda de 0,55%, cotado a R$ 5,1019, depois de ter tocado a mínima de R$ 5,1004 e encostado na máxima de R$ 5,1382. O euro comercial, por sua vez, teve depreciação de 0,49%, a R$ 5,5470. O real também exibiu apreciação de 0,08% frente ao peso mexicano e de 0,57% contra o peso colombiano.
No saldo semanal, o dólar teve retração de 1,07%. Embora a queda seja consistente, a desvalorização poderia ter sido ainda maior diante de um alívio observado no exterior após dados de inflação nos EUA na quarta-feira (movimento não aproveitado pelo câmbio brasileiro). O descolamento do exterior se deu por conta do aumento nos prêmios de risco devido à troca no comando da Petrobras. Cabe lembrar que no começo da semana, o dólar já vinha em níveis elevados (acima de R$ 5,15) por conta do estresse gerado após a divergência entre os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom).
O dólar iniciou as negociações rondando a estabilidade, mas passou a cair já no início do pregão. O que pode ter dado apoio ao real no começo da manhã foi a valorização do preço do minério de ferro, segundo a leitura de um operador de um banco.
Luiz Carlos Baldan, sócio e diretor de câmbio da Fourtrade Corretora, diz não ver o evento de hoje nos preços do minério como um fator capaz de despertar a melhora no câmbio local. “Se continuar ocorrendo esse movimento, mostrando consistência, acredito, sim, ser possível a vinda de recursos para o Brasil. Mas neste momento acho improvável.”
Operadores também mencionaram o fato de que o real pode estar tentando recuperar terreno após perder oportunidade de valorizar frente ao dólar, como observado nos mercados pares após a divulgação de dados melhores do que o esperado nos Estados Unidos. Além do já mencionado, hoje pela manhã, em entrevista concedida ao jornal “O Estado de S.Paulo”, o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, disse que não enxerga um “erro” na divergência do colegiado do BC e ressaltou a necessidade de “tempo, serenidade e calma” para avaliar o desenvolvimento das variáveis econômicas para a condução futura da política monetária, ao ser questionado sobre novos cortes na Selic. Com isso, osjuros futuros foram às máximas por aqui, o que gerou um aumento do diferencial de juros de curto prazo entre Brasil e Estados Unidos, que tende a sustentar a valorização do real.
Em relatório semanal sobre moedas, estrategistas do J.P.Morgan apontam que o posicionamento pesado no real no mercado de derivativos (que foi considerado um fator de atenção no começo do ano) tornou-se mais leve, com os investidores locais e estrangeiros apostando menos na moeda brasileira.
“Em janeiro, o índice de posições JPM para o real atingiu a máxima histórica, refletindo o forte posicionamento comprado no mercado. Cientes desta tendência, pedimos uma avaliação mais cautelosa na abordagem mais otimista em relação ao real, uma vez que o posicionamento provavelmente limitaria o espaço para ganhos imediatos, na ausência de novos influxos de investidores estrangeiros”, disseram.
O indicador do banco americano, no entanto, mostra, agora, que uma posição muito mais leve por parte de investidores locais e estrangeiros. “O índice de posição JPM para o real agora está em seu nível mais baixo em sete meses”, afirma. “A sinalização do índice de sugere que os investidores têm mais espaço para voltar a investir em posições compradas em real, à medida que a volatilidade diminui e o carry permanece alto.”
O J.P.Morgan lembra que a volatilidade implícita de seis meses do real permanece no menor patamar em quatro anos, apesar do pico observado em abril. “E há espaço para se estabilizar ainda mais na ausência de um grande aumento na aversão ao risco”, diz. “Enquanto que mercado está fixando uma taxa real de fim de ciclo próxima de 7%, que é a mais elevada entre os mercados emergentes (nominal em 10,25% face aos 10,5% atuais versus expectativas de inflação de 3,76% em dezembro de 2024).”
O que poderia travar a recuperação do real seria uma nova onda de aversão ao risco desencadeada pelos dados dos EUA e o potencial de derrapagem fiscal à medida que o governo brasileiro responde às inundações no Rio Grande do Sul (RS).
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