Entenda o que é e como se diferencia do burnout, doença ligada à exaustão mental e física no trabalho
Rafaela Zampolli
VALOR ECONÔMICO – Pessoas em profissões que exigem uma longa jornada de trabalho e que são responsáveis por outros funcionários: esse é o perfil comum dos trabalhadores afetados pelo “burn on”. Eles estão sempre disponíveis para ajudar os outros, entretanto, não sentem orgulho de si mesmos – pelo contrário, passam seus dias acometidos por tristeza, vergonha e culpa.
É sobre isso que trata o livro “Burn On: Sempre à beira do burnout”, lançado em 2021 apenas em alemão. Quem consagrou o termo, por meio da obra, foram o psiquiatra Timo Schiele e o psicoterapeuta Bert te Wildt. O burn on pode ser considerado um estado de “exaustão depressiva crônica”.
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Em outras palavras, essa síndrome surge “quando o indivíduo continua a trabalhar de forma intensa e comprometida, mesmo estando esgotado”, avalia Joaquim Santini, pesquisador sobre comportamento organizacional e diretor da consultoria EXO. Esse comportamento, explica, é motivado por um forte senso de responsabilidade, perfeccionismo ou medo de fracassar.
Ignorar a exaustão, ainda em concordância com o livro, abre possibilidades para que o burn on se torne o burnout – um distúrbio emocional que acarreta sintomas como dor de cabeça frequente, sentimentos de derrota e desesperança, pressão alta, alteração dos batimentos cardíacos e problemas gastrointestinais, de acordo com informações do Ministério da Saúde.
O burnout foi reconhecido como doença do trabalho pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2022. Já o burn on ainda não é aceito pela comunidade médica internacional.
“Os sinais do burn on são sutis e podem ser confundidos com a dedicação excessiva ao trabalho, o que faz dele perigoso”, explica Santini. “A pessoa se torna obcecada pelo trabalho, negligenciando necessidades básicas, relações pessoais e atividades prazerosas.”
Além disso, outros sintomas básicos da síndrome, de acordo com os autores, são um estado constante de fadiga e sofrimento extremos, sem necessariamente culminar em um colapso total. Outros sinais são a ansiedade e a dificuldade em estabelecer limites dentro do escritório. “A pessoa pode sentir culpa por tirar tempo para si”, complementa Santini.
Assim, ele recomenda ao trabalhador procurar um profissional da saúde ao apresentar sintomas como esses. Entretanto, prevenir o adoecimento não é um papel apenas do funcionário: “é essencial que as organizações estejam atentas aos sinais”. O consultor sugere que a empresa:
Estabeleça limites realistas de carga de trabalho;
Valorize o tempo de descanso, propondo pausas regulares;
Incentive a comunicação aberta sobre as dificuldades enfrentadas;
Ofereça políticas de horário flexível;
Promova um ambiente de trabalho positivo e colaborativo;
Forneça acesso a programas de bem-estar e suporte psicológico.
Além do ambiente de trabalho favorável para evitar o burn on, o acompanhamento com um profissional da saúde associado a exercícios físicos e a reserva de tempo para momentos prazerosos podem configurar um tratamento eficaz, finaliza Santini.
“Um termo desse confunde a população e os profissionais”, diz psicóloga
Para Mariana Clark, psicóloga e especialista em saúde mental, perdas e luto, esse termo “é confuso, tem informação trocada, os sintomas se repetem e podem, de fato, confundir a população e os profissionais”, dado que ele ainda não foi reconhecido pela comunidade médica.
Na percepção de Clark, é mais produtivo focar nos termos aceitos pela ciência. A nova palavra também acentua as dificuldades dos médicos em chegar nos diagnósticos. “Uma taquicardia pode ser estresse, esgotamento ou o princípio de uma síndrome do pânico”, por exemplo.
Não obstante, é necessário que seja ofertada psicoeducação e letramento emocional para empregados e lideranças. Um gestor com interesse genuíno em compreender o indivíduo identifica dores, podendo abrandá-las, além de otimizar o trabalho dos médicos e do profissional de recursos humanos.
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